Às 14:30 o cortejo de togas negras adentrou o recinto de forma hierárquicamente ordenada.O primeiro deles,o mais antigo,dirigiu-se ao seu lugar e sentou-se ,não sem antes aguardar que um áulico majestosamente o acomodasse no seu trono revestido do mais fino couro . Couro este oriundo de touros com pelo menos duas premiações em exposições internacionais ,portadores de sangue nobre de algumas das raças mais tradicionais da bovinocultura mundial.. Couro duplamente curtido em emulsões cristalinas da melhor safra, oops- das melhores fontes-, advindas dos píncaros das mais altas montanhas do Nepal.A madeira dos seus tronos ,cuidadosamente trabalhada , conforme rígida especificação da licitação de compra, deveria ser originária de árvores da Floresta Negra e com idade não inferior a cinquenta anos, devidamente aparelhadas em marcenaria internacionalmente laureada, detentoras de currículos de trabalhos em,pelo menos , três côrtes europeias .
E assim, cada um a seu tempo, tomaram assento os demais membros .Com a toga jogada aos ombros,símbolo do poder supremo,o temporário presidente,mais conhecido como aquele que está ali,mas não deveria estar,dá inicio aos trabalhos do dia.O teatro está montado, com a Presunção à sua direita,à direita deste a Arrogancia e ,defronte e na mesma ordem , o Narciso e o Partido.Esse quinteto predomina e comanda o espírito da côrte sendo que o sexteto restante,na visão dos primeiros, não passa de mero agente coadjuvante ,sem qualquer relevancia.
E aí começa o banquete de vaidades…O primeiro a se manifestar é sempre o relator do processo que ao término da leitura do relatório emite o seu parecer.O primeiro a votar sempre será o membro mais novo do colegiado.Deve ser um castigo imposto pelos demais a quem ainda não escolheu o seu lado.É nesse ponto que cada um dos togados ,do alto de suas origens divinas aproveita para , de forma enfadonhamente desnecessária demonstrar tôda a sua cultura jurídica e toda a sua nada modesta intelectualidade.É um tal de data vênia pra cá,data máxima vênia pra lá ,e nisso levam duas horas para dizer aquilo que poderia ser dito em trinta minutos Embora em ocasiões não muito raras seja possivel se assistir a choques de vaidades e troca de insultos dignas de um reality show de duvidosas virtudes.
Tendo votado o sexteto coadjuvante depois de decorridas horas ou até dias chega-se ao quinteto que manda.E nesse quinteto é terminantemente proibido adotar o voto ou argumento do colega.Cada voto tem de ser original,com argumentos ainda inéditos e citações de gurus jurídicos sem direito a repetições de nomes ou obras.O primeiro dos cinco a votar é o Partido.O próprio nome já traz implícito o seu parecer.Embora sua posição seja óbvia ele, como de praxe ,leva duas horas para com contorcionismos jurídicos pra lá de suspeitos,dourar a pílula.Em seguida temos o voto do Narciso.Célebre por querer sempre ser contra, numa tentativa vâ de mostrar independencia ,embora todos saibam que sua excelência só está ali por um escrachado ato de nepotismo do parente benevolente e de caráter altamente questionável.. Ele, sua excelência,é bom ressaltar,também requer longo tempo de palco para poder ficar ouvindo o som das próprias palavras, carregando propositadamente na pronuncia das ultimas silabas num deleite beirando um êxtase porno erótico esfusiante.Chega-se a observar que é tal a sua volúpia com a própria voz que a qualquer momento possa ocorrer um clímax salivar a escorrer pela boca enrijecida..O penúltimo a votar , o Sr. Arrogancia se acha o dono da verdade,com direito a distilar ódio e inveja sobre aqueles que não rezam por sua cartilha.É pródigo em proporcionar cenas degradantes e insólitas geralmente contra seus pares.Está sempre propenso a liberar cidadãos de conduta suspeita.Finalmente temos o Sr. Presunção.Seus votos são rebuscados e cansativos.Se tem a impressão ou seria certeza, que o referido senhor se percebe como a cereja do bolo.Aquele que ,em síntese , dá a palavra definitiva , acima da posição dos seus pares,e, através do melhor, mais brilhante e, mais qualificado voto, aplicar a melhor justiça.Como se “melhor justiça” fosse algo que pudesse existir sustentada por filigranas jurídicas totalmente vazias de conteúdo e usadas apenas para tentar ludibriar os incautos.
Obs. Essa é uma obra de ficção.Qualquer semelhança com pessoas ou eventos reais terá sido mera coincidencia.
O Autor