Duarte

4:30 da manhã.As batidas enérgicas na porta do quarto seguida de um grito  de “tá na hora” vindo do outro lado soam como tropel de cavalos  aos ouvidos do menino,que    lentamente vai acordando.

Zé Duarte senta-se à beira do catre,ainda meio sonolento,esfrega os olhos com as mãos,arrasta com o pé a botina mateira para perto de si e, num gesto quase automático tateia a mão sobre o pequeno criado à procura do fósforo.Logo a luz fraca da vela ilumina toda a singeleza de seu recanto.Além da cama e do criado somente uma velha cadeira onde sua roupa de trabalho aparece e desaparece ante a chama tremula  da vela quase a apagar.Ao vesti-la o cheiro forte de esterco atinge suas narinas,acordando-o de vez ,como que a lhe lembrar de suas obrigações.Duarte,como era chamado por todos,ainda nos seus pouco mais de dez anos,era  já um vaqueiro de mão cheia.Já vestido,com seu inseparável agasalho  em uma das mãos,ele pára junto a mesa da cozinha, e, de pé toma seu  caneco de  café com broa de milho e sai em direção ao curral.Ao sentir o vento frio a lhe arder no rosto,veste apressadamente o palitó de brim ,levanta a sua gola para  tentar proteger as orelhas,enquanto caminha pela trilha escura que conhece de olhos fechados.Afinal de contas esta tem sido a sua luta desde quando perdeu os pais  aos oito anos de idade  e foi morar com o tio fazendeiro lá pras bandas de  Itabira.Menino de corpo franzino,cabelo agarrado à cabeça como que besuntado de óleo de capivara,olhar esperto de quem não perde nada a sua volta,Duarte  já mostrava no vigor de suas mãos e braços as consequências do esforço no exercício da ordenha.Ao chegar ao curral,cumprimenta respeitosamente o tio,pega seu balde e seu par de sedéns e inicia o seu oficio;abre a cancela ,solta o primeiro bezerro que,espertamente passa a frente dos demais e, enquanto espera que mãe e filho se encontrem, esfrega as mão vigorosamente para  aquecê-las.Caminhando lentamente por entre o gado ,Duarte se aproxima da vaca,toca  levemente na testa do bezerro que rapidamente contorna a mãe e passa a mamar pelo outro lado.Com agilidade e rapidez  o menino peia a vaca,tomando o cuidado de prender a ponta do rabo junto  às patas traseiras para evitar  levar uma lambada enquanto ordenha; passa o outro sedém no pescoço do bezerro,aplica-lhe uma focinheira e,com firmeza  obriga-o a retroceder ,amarrando-o à pata dianteira  direita da mãe.Pronto.Agachado junto a vaca ,Duarte coloca o balde entre as pernas,passa as mãos nas tetas para limpar o babujado que o bezerro deixou,limpa as mão no couro da anca do animal,volta às tetas e o leite começa a cair no fundo do balde ruidosamente.Alí,agachado no vai-vem alternado dos braços na tirada do leite,ele começa a pensar se sua vida se resumirá a aquilo.Mas isto é outra história.

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