Em julho de 1972,decidimos,eu e Maria Helena ,que o destino de nossas primeiras férias seria o sul do país.De fusca!
Bem naquele tempo o movimento nas estradas era baixíssimo,alem disso , apesar de ser um fusca , não havia problema nas ultrapassgens.Caminhões e ônibus eram lentos.FNMs e Mercedes Benz não eram páreo para um Fusca 1500.principalmente nas subidas.Saimos de Belo Horizonte bem cedinho e a noitinha estávamos em Curitiba.Pernoitamos lá sem ser molestados pelo frio graças à calefação do hotel.Deixamos Curitiba na manhã seguinte quando os primeiros raios de sol surgiam no horizonte.Optamos pela BR-116 e ai o frio chegou.Foi necessário manter aquele ar quente durante toda a viagem.Almoçamos em Vacaria,já no Rio Grande do Sul ,e, ali mesmo deixamos a BR-116 e pegamos a 265,passando por Lagoa Vermelha,Passo Fundo Carazinho, e no entardecer chegamos em Cruz Alta.Cidade natal de Érico Verissimo e também da Maria Helena.Cruz Alta era uma cidade pequena,berço de triticultores,bastante aprazível,não fosse o frio ,que aquela altura já nos castigava até os ossos..Estacionamos em frente a casa dos tios de Maria Helena, Davi e Odete,sendo ela irmã de meu sogro.Tinhamos percorrido cerca de 2000 quilometras em dois dias ,sem qualquer tipo de incidente.À noitinha,depois de acomodados, nos sentamos para jantar.Não me lembro bem,mas acho que tinha, entre outras coisas, um caldo quente altamente confortador.Depois fomos para a sala ,onde uma lareira crepitava e inundava o ambiente com seu calor.Ali passamos momentos extremamente agradáveis.Embora aquela fosse a primeira vez que o via,e também a ultima,seu Davi era uma pessoa alegre,muito perspicaz e tinha sempre um comentário divertido sobre o que quer que se conversasse naquela sala.E foi ali,naquele ambiente ,que comecei a compreender ,ainda de maneira muito incipiente a alma daquela gente.Em momento algum,desde que pisei o chão daquela casa me senti desconfortável.Eu,que sempre fui uma pessoa tímida,arredia e acanhada— que o diga meus parentes de Araxá e Uberaba – tive ali,no Solar dos Ramos,aquela sensação plena ,de calor humano, de compartilhamento de pertencimento.Não me tratavam diferente.Era como se eu frequentasse aquela casa e aquela família ha muito tempo.Não mudaram seu jeito de ser;simplesmente foram ,o tempo todo, eles mesmos.
Aquela foi a única noite que compartilhamos,de forma tão rica,tão gratificante e,que guardo no coração com muito carinho.Na manhã seguinte partimos para Santo Angelo.
Fabio Botelho/2015